segunda-feira, 26 de setembro de 2011

O IDIOTA – F. DOSTOIÉVSKI – 1967

                                       
                                       Casa onde Dostoiévski escreveu "O Idiota"
                                                    Imagem: Wikipédia
              
Categoria: romance
Idioma original: russo
Tradução: José Geraldo Vieira
Páginas: 628
LIVRARIA JOSÉ OLYMPIO EDITORA

Leitura realizada entre os dias 12 de julho e 05 de setembro de 2011.

            O romance "O Idiota" de Dostoiévski, segundo o próprio autor, foi penoso e odioso escrever. Escrito sob intensos problemas, dentre eles a falta de dinheiro e profundas crises de epilepsia, o livro trata da história de vida dum príncipe russo que invariavelmente sofria de ataques epiléticos. O príncipe Liév Nikoláievitch Míchkin havia passado um bom tempo fora da Rússia, mais de quatro anos, em terras suíças fazendo o tratamento de sua moléstia.
            A história tem início dentro dum trem que, chegando a São Petersburgo, traz passageiros vindos do estrangeiro, mas acima de tudo, passageiros pobres vindos à cidade a negócios. É uma história que realça bastante as tradições russas da época de Dostoiévski, discorre sobre as práticas das famílias nobres, os usos das mulheres no trato com os homens e o preconceito reinante, no que diz respeito às regras para o casamento, o relacionamento entre amigos e etc.
            Talvez, dentre tantos aspectos interessantes que possamos depreender do livro, o que nos fale mais ao espírito seja a coragem do escritor em fazer-se representar no personagem principal da obra, pelo menos no tocante à doença vivenciada pelo príncipe. Fica transparente o modo como as pessoas desprezavam aqueles que sofriam de epilepsia, o que no livro será apresentado como idiotia. O idiota é retratado como um imbecil estúpido que tem dificuldade para entender as coisas, um amalucado a quem nem sempre se pode cobrar comportamento a altura dos ditos "normais". Por isso algumas vezes a gente percebe o tom de ironia de seus interlocutores sussurrando por entre dentes um "quem sabe o senhor não possa entender isso" ou "na sua condição talvez não fique muito claro" e etc. Há, muitas vezes, à margem do real comentário expedido, uma veiazinha de intolerância, uma nota sutil de impaciência para com a inteligência do príncipe.
            Por outro lado sobejam motivos no livro para considerar o príncipe superior aos outros em muitas ocasiões. Ele parece ser mais arguto do que todos na compreensão da vida, muito mais humano no trato com as pessoas, bem melhor de lidar, mais caridoso e inteligente na forma como se expõe em discussões públicas, e no modo como emite suas opiniões. É possível que eu esteja errado no modo como compreendi as finalidades do livro, mas pareceu-me que Dostoiévski pretendia dar o troco à sociedade inescrupulosa e preconceituosa de sua época.    

Índice Geral
Dostoiévski e "O Idiota"
Págs XI a XXI

Primeira Parte – Págs. 1 a 184
Segunda Parte – Págs. 185 a 331
Terceira Parte – Págs 332 a 466
Quarta Parte – Págs. 468 a 628

Primeira Parte (subdividida em 16 capítulos)
Capítulo 1 – O príncipe Míchkin se encontra no "Rápido de Varsóvia" com Rogójin, aquele que seria doravante seu amigo, se bem que também seu principal rival na conquista do coração de uma mulher. Míchkin revela a causa de sua saída do país, ou seja, o problema da epilepsia.
Capítulo 2 – Míchkin chega no apartamento do general Epantchín.
Capítulo 3 – Míchkin trava conhecimentos com o general Iván Fiódorovitch Epantchín. Juntos falam sobre a jovem Nastássia Filíppovna.
Capítulo 4 – Descrição das filhas do general e alusão à condição de vida da jovem Nastácia Filíppovna.
Capítulo 5 – O príncipe Míchkin é recebido pela esposa do general, a senhora Lizavéta Prokófievna, e conta a ela e a suas filhas os estranhos acontecimentos de uma execução na cidade de Lião.
Capítulo 6 – Míchkin conta acontecimentos da cidade onde havia morado e suas experiências com crianças. Cita a história comovente de uma moça chamada Marie, adotada pelas crianças do povoado onde ele morara.
Capítulo 7 – O príncipe acaba se envolvendo, sem querer, numa confusão amorosa vivida pela filha mais moça dos Epantchín, Agláia Ivánovna, e um funcionário do pai dela, Gavríl Ardaliónovitch.
Capítulo 8 – Míchkin, por não ter onde ficar, acaba aceitando a hospitalidade estranha do recém conhecido Gavríl Ardaliónovitch, também conhecido por Gánia.
Capítulo 9 – Após uma série de acontecimentos surge em cena, na casa de Gánia,  Nastássia Filíppovna, mulher de incrível beleza e extrema ousadia. Hoje chamaríamos de liberal ao extremo.
Capítulo 10 – A casa de Gánia recebe, inesperadamente, a visita de mais um personagem, Rogójin.
Capítulo 11 – Rogójin revela suas intenções para com Nastássia Filíppovna na casa de outras pessoas.
Capítulo 12 – Míchkin dialoga com o irmão de seu benfeitor Gánia, ou seja, Kólia, um menino esperto e observador.
Capítulo 13 – Descrição de um estranho jogo proposto por Nastássia. Todos devem contar uma história pessoal na qual figure ações passadas lamentáveis. Só valem as histórias que revelem a perversidade do narrador.
Capítulo 14 – Tótskii, amante e protetor até então de Nastássia Filíppovna, participa do jogo estranho. O príncipe Míchkin mais uma vez se envolve numa confusa questão de casamento.
Capítulo 15 – Rogójin surge em meio à reunião disposto a arrematar o corpo de Nastássia Filíppovna por certa soma de dinheiro. Rogójin é apaixonado por ela e faz de tudo para possuí-la, mas é apresentado pelo autor como indivíduo de má índole e inescrupuloso.
Capítulo 16 – O príncipe Míchkin descobre e revela a todos ser portador de uma bela herança. Gánia, que também pleiteava a mão da bela moça, é humilhado por ela e descrito como alguém que por poucos rublos é capaz de vender a própria mãe.

Segunda Parte (subdividida em 12 capítulos)
Capítulo 1 – O príncipe Míchkin viaja para Moscou a fim de receber sua herança. Estranhos rumores sobre sua vida com Nastássia Filíppovna são propagados em São Patersburgo. Sabe-se que os dois haviam se encontrado em Moscou.
Capítulo 2 – Míchkin volta para São Petersburgo e vai morar na pensão de um senhor Liébediev. A loquacidade de Liébediev é posta à prova.
Capítulo 3 – Míchkin visita a casa de seu rival Rogójin. Há no ar uma certa violência camuflada. Ambos conversam sobre a bela Nastássia.
Capítulo 4 – Míchkin e Rogójin fazem um pacto de irmãos.
Capítulo 5 – Míchkin sofre um ataque epilético enquanto percebe, se bem que de modo obscuro, a figura de Rogójin tentando assassiná-lo com uma faca. Nesse momento o rosto se deforma horrivelmente, de modo particular os olhos. Não só o corpo inteiro como os traços do rosto trabalham com sacudidelas convulsivas e contorções. Um terrível e indescritível grito, que não se assemelha a cousa alguma, é emitido pela vítima... é como se um outro ser estivesse gritando dentro do homem (Pgs. 241/242).
Capítulo 6 – Míchkin, convalescente do ataque epilético, recebe a visita da senhora Epantchín e suas belíssimas filhas. Liébediev, o intérprete do Apocalipse.  
Capítulo 7 – Agláia, uma das filhas da generala, lê um poema e, por meio dele, faz velada alusão à importância do príncipe para com ela. Kólia, o garoto amigo do príncipe, parece sempre estar por perto.
Capítulo 8 – Míchkin recebe a visita de alguns jovens que, parece, querem se aproveitar da ingenuidade dele para levar um pouco do dinheiro que ele havia recebido de herança. É lido um texto infamante a respeito do príncipe e a generala fica furiosa diante da passividade dele frente a seus visitantes.
Capítulo 9 – Gavríl Ardaliónovith, agora transmudado desde a vergonha da recusa de Nastássia Filíppovna, aparece como advogado em prol das causas do príncipe.
Capítulo 10 – Descobre-se a participação de Liébediev na confecção do documento lido. No fim da reunião aparece, inopinadamente numa carruagem à saída da casa, a figura temida e desprezada de Nastássia Filíppovna, já neste contexto odiada por muitos, dada a sua liberalidade de vida com Rogójin. A generala se despede do príncipe furiosa.
Capítulo 11 – Liébediev conta novidades para o príncipe a respeito de Agláia. Kólia aparece cheio de novidades. A fala tão atual de Liébediev é a seguinte: Palavras e ações, mentiras e verdades estão em mim de tal forma misturadas que no fundo sou sincero (Pg. 320 – 3º parágrafo).
Capítulo 12 – A generala volta à casa do príncipe disposta a fazer as pazes. Juntos discutem a provável paixão do príncipe por sua filha Agláia. Nas cartas trocadas entre ambos, fica clara a queda de Agláia pelo príncipe, ainda que este pareça não entender.

Terceira Parte (subdividida em 10 capítulos)
Capítulo 1 – Considerações a respeito do povo russo. A natureza perdoadora e conciliadora do príncipe é discutida.
Capítulo 2 – Evguénii Pávlovitch é elogiado pelo príncipe apesar da suspeita generalizada de seus negócios com a despeitada Nastássia Filíppovna. Numa festa aparece de supetão Nastássia e acaba gerando confusão e violência entre os participantes.
Capítulo 3 – O príncipe Míchkin corre o risco de ser desafiado para um duelo, por ter defendido Nastássia de uma possível violência masculina causada por um capitão. Agláia parece mesmo apaixonada pelo príncipe e por isso, estranho mundo das mulheres, o trata com desdém.
Capítulo 4 – Ippolít, o eterno tuberculoso, se encontra na varanda com o príncipe. Zombam de Liébediev por causa de sua interpretação do Apocalipse. Liébediev despreza a conceituação científica e materialista.
Capítulo 5 – Ippolít faz todo mundo se cansar por causa de um texto que ele insiste em ler. Trata-se de uma carta sua à moda de despedida da vida.
Capítulo 6 – Prossegue a leitura da carta.
Capítulo 7 – Ippolít tenta se matar usando uma velha pistola. A arma não tem munição e, por isso, ele vai ficar muito tempo se defendendo ao passo que os demais acreditarão ser ele um embusteiro. Agláia marca um encontro com o príncipe num certo jardim, próximo à sua casa.
Capítulo 8 – Agláia encontra o príncipe dormindo no jardim onde o encontro fora marcado. Míchkin conta para a moça os acontecimentos relativos a Ippolít. Agláia, na conversa que se segue, mostra toda sua infantilidade e irritação. Ela ameaça o príncipe com idéias sobre fuga e casamento e comenta as cartas recebidas por ela de Nastássia. Ambos são surpreendidos pela mãe da moça, Lizavéta Prokófievna.
Capítulo 9 – Kólia dialoga com o príncipe sobre os acontecimentos da noite anterior. Há a suspeita de que a malfadada tentativa de suicídio por parte de Ippolít não tenha passado de um embuste. Aconteceu um roubo na casa de Liébediev e as suspeitas recaem sobre o pai de Kólia, o general.
Capítulo 10 – Míchkin lê algumas cartas enviadas por Nastássia Filíppovna para Agláia. Percebe nelas um laivo de loucura, traços dos quais ele já havia suspeitado. Acontece, no mesmo jardim onde ele havia no dia anterior se encontrado com Agláia, um encontro inesperado com Nastássia e Rogójin.

Quarta Parte (subdividida em 11 capítulos)
Capítulo 1 – Dostoiévski inicia esse capítulo citando a personagem Varvára Ardaliónovna Ptítsin, fazendo uma análise dos "comuns". Segundo ele os livros acabam criando personagens que, na verdade, estão entre nós, mas não percebemos. Afirma: A maior parte dos autores tenta, em seus contos e novelas, selecionar e apresentar de modo artístico e vivo tipos raramente encontrados na inteireza de suas vidas imediatas, muito embora sejam, sem embargo, mais reais do que a vida real mesma (Pág. 468, 2º parágrafo). Em seguida, ele cita um personagem criado por Gógol, um dos maiores escritores russos, chamado Podkolióssin. Nas considerações de Dostoiévski, muitas vezes um escritor cria um personagem que, no entanto, a gente consegue encontrar em cada esquina, em qualquer feira ou praça de qualquer cidade do mundo. É exatamente o que se dá com o personagem de "Crime e Castigo" chamado Raskólnikov, com suas manias de grandeza ou pungentes manifestações de culpa.
            O projeto de Gavríl Ardaliónovith de casar-se com Agláia, parece não estar dando certo aqui. Sua irmã Varvára o coloca a par das últimas notícias sobre o provável casamento da moça com o príncipe Míchkin.
Capítulo 2 – Ippolít, que ficara morando na casa do príncipe Míchkin, vai para a casa de Ptítsin, cunhado de Gavríl. Não há entre ele e o príncipe nenhuma discussão, pois se despedem como bons amigos. O general, pai de Varvára, Gavríl e Kólia, parece acometido de uma grande enfermidade ou loucura. Paira sobre ele a suspeita de haver roubado uma carteira na casa de Liébediev e todos estão consternados com isso. O general amaldiçoa a todos em sua casa e sai para a rua angustiado.
Capítulo 3 – Liébediev conversa com o príncipe sobre a carteira roubada. Discutem a personalidade do general suspeito do roubo.
Capítulo 4 – O príncipe e o general Ardalión Aleksándrovitch, pai de Kólia, se reúnem em casa do primeiro para conversarem. O general se ressente das histórias de Liébediev e afirma não querer mais amizade com o mesmo. Como sempre o príncipe busca a conciliação. O general, entusiasmado, engendra uma história absurda sobre sua infância ao lado de Napoleão Bonaparte. Sabe-se, por intermédio do próprio Liébediev, que o general é um mentiroso contumaz. No entanto, ele e o general parecem se dar muito bem e ambos possuem idêntica característica, afinal, a fala de Liébediev: Palavras e ações, mentiras e verdades estão em mim de tal forma misturadas que no fundo sou sincero (Pg. 320 – 3º parágrafo), bem poderia ser também do general. Após uma série de episódios angustiantes, o general tem um ataque e cai nos braços do filho
Capítulo 5 – Entende-se na família de Agláia que a moça está apaixonada pelo príncipe. Ippolít e o príncipe conversam animadamente sobre coisas triviais. Ippolít continua, mesmo após o episódio do não disparo da arma de fogo, a se apresentar como um fraco.
Capítulo 6 – A família de Agláia vai dar uma festa para apresentar o príncipe como noivo da moça. Todos estão com medo dos ataques do príncipe. Liébediev comenta com o príncipe a respeito da carta de Agláia para Nastássia Filíppovna. A festa se desenvolve normalmente entre pessoas muito ricas e "bem nascidas". O príncipe, com medo de cometer algum erro, observa tudo de longe.
Capítulo 7 – Cheio de entusiasmo o príncipe conversa com algumas pessoas fazendo a defesa do ateísmo em detrimento do cristianismo. Ele afirma que a questão do ateísmo é ser uma resposta ao catolicismo. Parece que suas palavras ofenderam a sensibilidade de algumas pessoas, mas, apesar disso, todos o estimam muito.  Durante a festa Míchkin termina tendo mesmo um ataque.
Capítulo 8 – Míchkin rememora tristemente os acontecimentos da noite anterior. Agláia Ivánovna envia-lhe um bilhete pedindo-lhe que não saia de casa. Ambos vão encontrar-se com Nastássia Filíppovna na casa de Rogójin. As duas moças discutem e terminam brigando feio. Míchkin, que sempre sustentou a versão da loucura de Nastássia, se complica no fim da entrevista. Dá-se, por força das conseqüências desse episódio, o rompimento do acordo de casamento que havia entre o príncipe e Agláia.
Capítulo 9 – A entrevista entre as duas moças, bem como as conseqüências da mesma, acabam se transformando num enorme escândalo. O príncipe fica mal com a família de Agláia. Míchkin parece louco afirmando amar incondicionalmente as duas moças. Não consegue definir seu amor por Agláia, nem tão pouco os sentimentos que tem por Nastássia.
Capítulo 10 – O príncipe e Nastássia Filíppovna marcam casamento mas não sobem ao  altar. O povo, durante a cerimônia, grita palavras maldosas à noiva por considerarem-na uma prostituta. Rogójin, por enlouquecida solicitação da própria moça, arrebata-a no último instante levando-a embora para outra cidade.
Capítulo 11 – Míchkin vai até Petersburgo buscar sua noiva na casa de Rogójin. Depois de insistentes dias, Rogójin abre-lhe a porta de sua casa conduzindo-o até seu quarto onde, coberta por um lençol, jaz inerte o corpo sem vida de Nastássia Filíppovna. A história termina com Rogójin sendo enviado como prisioneiro para a Sibéria, por ter assassinado Nastássia, e o príncipe Míchkin, agora enlouquecido, sendo enviado para um sanatório. Lá, inconsciente, ele recebe a visita da família Epantchín.

Curiosidades do texto

Pg. 232, 233: Dostoiévski faz uma descrição do ataque epilético. Usa para isso, com certeza, sua própria experiência como epilético.

Pg. 380 – Fala de Liébediev: A conceituação científica e materialista dos últimos séculos é amaldiçoada.

Pg. 401 – (4º parágrafo) Manuscrito de Ippolít: Distraía-me com eles porque já tinha visto perfeitamente que me era vedado até mesmo aprender a gramática grega, como me deu na veneta certa vez. "morrerei sem sequer ter chegado à sintaxe"...

Pg. 402 – (2º parágrafo) – De certo modo, e como diz a introdução do livro, essa é uma ideia de Dostoiévski nas falas do tuberculoso Ippolít: "Acrescentarei, todavia, que sempre no fundo de cada novo pensamento humano, de cada pensamento de gênio ou mesmo de cada pensamento que emerge do cérebro como altíssima centelha, alguma coisa há que não pode ser comunicada aos outros, mesmo que fossem precisos volumes e mais volumes a respeito e que se levasse mais de trinta e cinco anos a querer explicar; alguma coisa que não sai do cérebro, que não pode emergir, que aí fica para sempre intata e incomunicável. Morre-se com ela, sem poder participá-la a quem quer que seja."

Erros de ortografia ou digitação

Pg. 157 (5º parágrafo)
com = como

Pg. 160 (9º parágrafo – 3ª linha)
enterrrou-se = enterrou-se

Pg. 164 (2º parágrafo – 1ª linha)
devera = deveria

Pg. 186 (2º parágrafo)
pelo fatos  = pelos fatos

Pg. 233 (3º parágrafo-21ª linha)
fela felicidade = pela felicidade

Pg. 237 (4º parágrafo – 15ª linha)
desenrosamente = desonrosamente

Pg. 259 (fim do parágrafo)
um tal malícia = uma tal malícia

Pg. 275 (3º parágrafo – 5ª linha)
varenda = varanda

Pg. 290 (3º parágrafo)
maulcos = malucos

Pg. 296 (1º parágrafo)
mas = mais

terça-feira, 6 de setembro de 2011

"O Perfume", obra de Patrick Süskind

                                                            suindaraalexandre...

Categoria: Romance
Idioma original: Alemão
Tradução: Flávio R. Kothe
Editora: Círculo do Livro S. A.
Total de páginas: 208

Leitura realizada entre os dias 20 e 30 de Agosto de 2011.

            O livro "O Perfume" de Patrick Süskind traz uma história exótica ocorrida na França do século XVIII. Seu personagem principal, um perfumista conhecido como Jean-Baptiste Grenouille, é um homem feio e desconhecido da população que, no decorrer da história, mostra sua grande capacidade olfativa. Grenouille nasceu em meio a restos de peixe vendidos numa feira. Sua mãe, que tentou por todos os meios eliminá-lo, era uma das trabalhadoras da feira que lidava na árdua tarefa de cortar, limpar e comercializar peixes. Logo após dar à luz, foi sentenciada à morte por ter tentado matar a criança. Grenouille, sendo recolhido pela igreja, ficou um bom tempo vivendo com a ama Jeanne Bussie, a expensas da comunidade religiosa representada pelo padre Terrier, um monge cinqüentão, careca, cheirando levemente a vinagre (pg. 10) que havia no convento de Saint-Merri. No entanto, o que chamou a atenção daqueles que tentaram cuidar dele, foi a estranha característica inata, por assim dizer, da criança não desprender de si nenhum cheiro. Por mais que seus cuidadores teimassem em buscar nele um indício de normalidade, viam-se assustados com essa particularidade fora de propósito. Expulso do convento, Grenouille foi morar na pensão da Sra. Gaillard, uma pobre e sonhadora criatura que cuidava de outras crianças e só pedia à providência que lhe desse uma boa morte.
            Entretanto, se bem que ele próprio não emitisse de si nenhum aroma, desde cedo ficou evidente que Grenouille tinha uma grande facilidade para misturar essencias e, por meio de ervas ou das substâncias mais grotescas, conseguir extrair cheiros que coadunassem com sua expectativa ou desejo. Evidentemente, durante muito tempo, tal habilidade ficou restrita a seu mundo pessoal, sendo que só mais tarde ele decidiu mostrar-se para conseguir realizar seus intentos. Grenouille procurou, na cidade onde morava, o melhor perfumista que, decadente e sem criatividade, após alguns testes, percebeu no garoto estranha habilidade para o mundo dos perfumes. Giuseppe Baldini era o nome desse perfumista. Baldini superado em sua fraqueza, ou seja, a falta de criatividade, apodera-se do garoto que não tinha nenhuma pretensão pessoal no mundo dos perfumes, mas apenas queria descobrir a essência perfeita, o cheiro que o levasse a dominar os homens.
            Grenouille tem uma trajetória incrível, circulando por várias partes da França e tentando, de um ou outro modo, encontrar esse aroma único, perfeito e legítimo que o pudesse galgar a alturas nunca antes vivenciadas por nenhum outro perfumista. O que transparece durante a história é o seu completo desprezo pela humanidade e sua gana pelos cheiros, pelas essências, pelos incensos que o envolvessem em sua "divina" trajetória. Nessa busca contínua, ele parece querer compensar, por meio de artifícios bem concretos, a falta de um perfume inato que o qualifique como gente, como participante natural da qualidade de ser humano.
            No dia 1º de setembro de 1753 (pg. 34) Grenouille cometeu seu primeiro assassinato. É certo que as pessoas que o conheciam, ou com quem ele convivia durante certo tempo, acabavam morrendo de forma inesperada. No entanto, assassinato mesmo, por suas próprias mãos, o primeiro foi o da garota "cheirosa" da Rue des Marais, no dia da coroação do rei. Grenouille, antes de assassiná-la para tomar posse definitivamente de seu odor cheirou o suor de suas axilas, a gordura dos seus cabelos, o cheiro de peixe do seu sexo, tudo com o maior prazer. O suor dela odorava tão fresco quanto a brisa do mar, o sebo dos seus cabelos, tão doce quanto o óleo das amêndoas, o seu sexo, como um buquê de lírios-d'água, a pele, como flores de pessegueiro... (pg. 37). Foi o primeiro duma série de crimes cometidos por causa do grau de perfeição perfumística solicitado pelo nariz do criminoso. Grenouille buscava nas garotas o hálito perfeito, a essência pura, capaz de subjugar os homens e deixá-los em suas mãos.
            A história atinge seu ápice quando Grenouille, apanhado e condenado à morte, consegue subjugar seus algozes por meio de um perfume criado por ele para dominar os homens. No entanto, quando por fim libertado da prisão e de qualquer outro infortúnio ligado ao caso, o criminoso se afasta das pessoas comuns e vai se juntar a um grupo de prostitutas e bandoleiros. Mesmo tendo poderes para conseguir o que quisesse, Grenouille, eternamente angustiado por sua condição de diferente, acaba se suicidando deixando-se, devido ao perfume que havia criado e borrifado sobre si mesmo, destroçar e devorar por uma pequena multidão reunida à noite em volta de uma fogueira em Paris.