Idioma original: Alemão
Tradução: Flávio R. Kothe
Editora: Círculo do Livro S. A.
Total de páginas: 208
Leitura realizada entre os dias 20 e 30 de Agosto de 2011.
O livro "O Perfume" de Patrick Süskind traz uma história exótica ocorrida na França do século XVIII. Seu personagem principal, um perfumista conhecido como Jean-Baptiste Grenouille, é um homem feio e desconhecido da população que, no decorrer da história, mostra sua grande capacidade olfativa. Grenouille nasceu em meio a restos de peixe vendidos numa feira. Sua mãe, que tentou por todos os meios eliminá-lo, era uma das trabalhadoras da feira que lidava na árdua tarefa de cortar, limpar e comercializar peixes. Logo após dar à luz, foi sentenciada à morte por ter tentado matar a criança. Grenouille, sendo recolhido pela igreja, ficou um bom tempo vivendo com a ama Jeanne Bussie, a expensas da comunidade religiosa representada pelo padre Terrier, um monge cinqüentão, careca, cheirando levemente a vinagre (pg. 10) que havia no convento de Saint-Merri. No entanto, o que chamou a atenção daqueles que tentaram cuidar dele, foi a estranha característica inata, por assim dizer, da criança não desprender de si nenhum cheiro. Por mais que seus cuidadores teimassem em buscar nele um indício de normalidade, viam-se assustados com essa particularidade fora de propósito. Expulso do convento, Grenouille foi morar na pensão da Sra. Gaillard, uma pobre e sonhadora criatura que cuidava de outras crianças e só pedia à providência que lhe desse uma boa morte.
Entretanto, se bem que ele próprio não emitisse de si nenhum aroma, desde cedo ficou evidente que Grenouille tinha uma grande facilidade para misturar essencias e, por meio de ervas ou das substâncias mais grotescas, conseguir extrair cheiros que coadunassem com sua expectativa ou desejo. Evidentemente, durante muito tempo, tal habilidade ficou restrita a seu mundo pessoal, sendo que só mais tarde ele decidiu mostrar-se para conseguir realizar seus intentos. Grenouille procurou, na cidade onde morava, o melhor perfumista que, decadente e sem criatividade, após alguns testes, percebeu no garoto estranha habilidade para o mundo dos perfumes. Giuseppe Baldini era o nome desse perfumista. Baldini superado em sua fraqueza, ou seja, a falta de criatividade, apodera-se do garoto que não tinha nenhuma pretensão pessoal no mundo dos perfumes, mas apenas queria descobrir a essência perfeita, o cheiro que o levasse a dominar os homens.
Grenouille tem uma trajetória incrível, circulando por várias partes da França e tentando, de um ou outro modo, encontrar esse aroma único, perfeito e legítimo que o pudesse galgar a alturas nunca antes vivenciadas por nenhum outro perfumista. O que transparece durante a história é o seu completo desprezo pela humanidade e sua gana pelos cheiros, pelas essências, pelos incensos que o envolvessem em sua "divina" trajetória. Nessa busca contínua, ele parece querer compensar, por meio de artifícios bem concretos, a falta de um perfume inato que o qualifique como gente, como participante natural da qualidade de ser humano.
No dia 1º de setembro de 1753 (pg. 34) Grenouille cometeu seu primeiro assassinato. É certo que as pessoas que o conheciam, ou com quem ele convivia durante certo tempo, acabavam morrendo de forma inesperada. No entanto, assassinato mesmo, por suas próprias mãos, o primeiro foi o da garota "cheirosa" da Rue des Marais, no dia da coroação do rei. Grenouille, antes de assassiná-la para tomar posse definitivamente de seu odor cheirou o suor de suas axilas, a gordura dos seus cabelos, o cheiro de peixe do seu sexo, tudo com o maior prazer. O suor dela odorava tão fresco quanto a brisa do mar, o sebo dos seus cabelos, tão doce quanto o óleo das amêndoas, o seu sexo, como um buquê de lírios-d'água, a pele, como flores de pessegueiro... (pg. 37). Foi o primeiro duma série de crimes cometidos por causa do grau de perfeição perfumística solicitado pelo nariz do criminoso. Grenouille buscava nas garotas o hálito perfeito, a essência pura, capaz de subjugar os homens e deixá-los em suas mãos.
A história atinge seu ápice quando Grenouille, apanhado e condenado à morte, consegue subjugar seus algozes por meio de um perfume criado por ele para dominar os homens. No entanto, quando por fim libertado da prisão e de qualquer outro infortúnio ligado ao caso, o criminoso se afasta das pessoas comuns e vai se juntar a um grupo de prostitutas e bandoleiros. Mesmo tendo poderes para conseguir o que quisesse, Grenouille, eternamente angustiado por sua condição de diferente, acaba se suicidando deixando-se, devido ao perfume que havia criado e borrifado sobre si mesmo, destroçar e devorar por uma pequena multidão reunida à noite em volta de uma fogueira em Paris.
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