domingo, 7 de agosto de 2011

Preceitos

            1. Comumente ouvimos conselhos sobre como devemos tratar nossa criança interior. Quase sempre evocam-se as palavras de Jesus tiradas do evangelho: ...das tais é o reino dos céus! Mas será que Jesus tinha alguma coisa a ver com essa recente supervalorização do espírito infantil como vemos hoje em dia? Será que suas palavras ditas num determinado contexto podem ser usadas como sustentáculo para idéias nocivas e completamente descontextualizadas? Ninguém pode negar que há e cada vez de forma mais despudorada uma plangente inclinação para a irresponsabilidade e falta de vergonha daqueles que se dizem simples como crianças. A frase dita por Jesus, obviamente fazia referência à inocência e falta de rancor como comportamento habitual das crianças. Comportamento este que deveria ser idêntico nas atitudes dos adultos. Entretanto, é bom lembrarmos que o mesmo Jesus agiu com energia quando confrontado com a realidade vergonhosa dos vendilhões do templo e dos fariseus que, na sua opinião, eram sepulcros caiados cujo interior não correspondia com a aparência externa.
            2. Nosso século será, mais do que qualquer outro, o século da completa sem vergonhice. O que dizer daqueles que se apropriam de versículos isolados da Bíblia para a defesa de seus desejos libertinos? Ah, dizem alguns, as prostitutas tem o seu lugar guardado lá no céu! Malandramente fazem uso de novo das palavras de Jesus quando afirma que as prostitutas entrarão no céu adiante dos religiosos. Fazendo uso de suas atribuições de completos facínoras descartam todo o contexto do versículo para fazerem tais absurdas e pecaminosas afirmações. As palavras do Cristo referem-se àquelas mulheres arrependidas que, a exemplo de Maria Madalena, deixaram tudo, inclusive a vida de pecados, para seguí-lo.
            3. O racismo deve ser sempre considerado como um sentimento nojento e nocivo. Não estou falando do racismo fundamentado em brincadeiras inocentes ou tiradas espontâneas. Ainda que tais práticas devam, grosso modo, ser constantemente evitadas por  nós, é fato que há frases ou palavras que, quando pronunciadas numa situação idêntica, também deveriam ser consideradas racistas ou, quando muito, prejudiciais e portanto proibidas. Hoje em dia é muito comum ouvirmos sobre a lei que considera os termos “preto” ou “de cor” como termos de forte conteúdo racista. Mas o que dizer daqueles que se referem a outros como “burros”, “idiotas”, “branquelos” ou coisa semelhante? Porque não são os tais também subjugados à mesma lei anti-racista? Parece-me, e estou certo que há aí, uma boa dose de hipocrisia. Eu, particularmente, não gostaria que me considerassem como um burro orelhudo ou um idiota desguarnecido de cérebro. Ninguém pode negar que nós brasileiros carregamos no sangue um resquício de cultura européia que cheira à chocarrice. Gostamos da galhofa e, por isso nos sobram tantos termos pouco recomendáveis para o uso. O racismo a que me refiro é aquele que despreza competências, nega asilo, humilha pessoas e massacra indivíduos. Esse sim é repugnante e pecaminoso. Aos olhos do bom senso todos nós somos iguais e corre em nossas veias um liquido vermelho que, quando exposto à luz, fede e se transforma em esterco. Somos iguais e igualmente marchamos para idêntico destino: a cova.
            4. A aceitação do homossexualismo é claro, veio pra ficar. Evidentemente muitas coisas vieram pra ficar, mas nem todas têm a mesma força que esta. Entretanto ainda que muitos considerem ser preciso uma análise acurada de todo conhecimento disponível pra justificar ou condenar tal prática, a simples observação dos fatos já pode nos fornecer muitas respostas. Antes de qualquer coisa, esqueçam a Bíblia. Afinal, não há nada lá que justifique a prática homossexual. De nada adianta ficar tirando conclusões, torcendo histórias ou tentando transformar a palavra “amor” em sinônimo de libertinagem. Os textos referentes às práticas que fogem ao âmbito da naturalidade estão por toda parte, basta ter o mínimo de honestidade para aceitá-los. No mais fiquemos apenas com a observação e a honestidade daquilo que a ciência afirma. Não é interessante o quanto a ciência pode servir para o mal e para o bem? As próprias pesquisas já não confirmaram que não existe possibilidade genética que assegure a existência de um terceiro sexo? Se a carreira cromossômica masculina e feminina só aceita possibilidades genéticas de “X” e “Y”, então porque a discussão permanece? Encerre-se a questão e que os homossexuais fiquem por sua conta e risco, assumindo o peso da escolha que, individualmente, fizeram.    
            5. A igreja é, no mundo, o baluarte da pregação do evangelho. Foi aqui deixada pelo Cristo para que suas palavras pudessem ser disseminadas. No entanto é notório também que a igreja é uma instituição comandada por seres humanos falhos e, via de regra, cheios de deficiências. A igreja ocupa hoje no cenário mundial grande peso político e pouca representação social; infelizmente os homens têm se deixado levar muito pela quantidade de dinheiro que podem amealhar dos incautos, mas não olham pelos necessitados, nem se preocupam com os carentes. É flagrante a necessidade de reformulação de conceitos, entretanto sabemos que pouco se fará, visto ser a vontade do homem neste mundo colocada em primeiro plano em detrimento da vontade de Deus. Conceitos como: prosperidade na mesa e posse de bens materiais suplantaram o que no passado se consideraria como ter o suficiente para a sobrevivência. Em geral os homens querem mostrar muito para poderem afirmar que são melhores que outros ou super abençoados pelo favor divino. Quem quiser julgar se tal ideia é correta ou não, deve apenas ler no Novo Testamento a história de Jesus e se convencerá, se for honesto, de que o rei dos reis aceitou a humanidade em detrimento da divindade. Só a consideração dessa verdade será suficiente para que todo ouro e prata do mundo sejam desprezados.
6. A riqueza é um bem conferido a poucos. É fato que, conquanto poucos tenham nascido com ela, alguns há que trabalham com o engodo e a desonestidade com o fim de alcançá-la. No entanto há também os que foram com ela agraciados por esforço contínuo ou dom de Deus. Nunca devemos julgar pessoas sem conhecer-lhes os rastros. O próprio Cristo disse que era mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no céu, no entanto o mesmo Cristo deixou bem claro logo em seguida: o que é impossível aos homens é possível a Deus. Nem todos os ricos são sovinas, nem todos os ricos conseguiram seus bens por intermédio da mentira ou do massacre dos pobres; muitos há que ajudam os necessitados em seus infortúnios e, por certo, serão abençoados por Deus no grande dia. O bom seria que nunca julgássemos nenhum indivíduo. O bom seria que guardássemos nossas bocas da maledicência e da soltura da língua, mas como somos fracos nisso!
7. O orgulho está muito unido a altivez de espírito, como quando aquele ser das luzes, lá no íntimo de seu coração afirmava: Subirei acima das estrelas do céu e me assentarei no trono de Deus! Assim é todo aquele que se orgulha por ser melhor que os outros ou por ter mais que os outros. Quem procede em sua vida como se tudo girasse ao seu redor, descobrirá, para seu próprio infortúnio, que ninguém dele sente falta e, ainda que tardiamente, perceberá que o planeta segue seu curso normal sem sua presença. Jesus numa parábola falou sobre o homem que guardou muitos bens e depois, deitado em sua cama, dizia: folga alma, pois tens muitos bens para muito tempo. O resultado desse procedimento orgulhoso foram as palavras vindas do alto em tom colérico: “louco, o que tens preparado para quem será?” Ainda que a sorte nos sobrevenha com muitos bens, e a alegria seja nosso cântico diário, nunca devemos nos esquecer que tudo que temos vem de Deus e só a ele deve ser dada toda gratidão e todo perfeito louvor. Diante de Deus somos pequenos, pífios e sem nenhuma valia. Mas quando elevados à categoria de filhos da divindade, aí é que assumimos nosso papel de coadjuvantes na história. Entretanto, que ninguém se engane julgando que o orgulho acomete apenas aos ricos e abastados deste mundo; há muitos pobres que, mesmo nada tendo, julgam-se muito superiores aos demais homens. Comem o pão da miséria, mas não se inclinam a pedir ajuda; sofrem as penas do abandono, mas não abrem mão do nariz empinado. O orgulho pode se apresentar de muitas formas, num simples piscar de olhos, num sorriso à meia boca, numa palavra espirituosa e até num gesto impensado, mas sempre será uma ofensa a Deus. Entretanto, não podemos confundi-lo com aquele sentimento de felicidade que nos sobrevém quando realizamos algo digno de elogio. Nossas conquistas fazem-nos orgulhosos de nossos feitos e, desde que tal orgulho não nos leve a desprezar as pessoas, não há mal nenhum nele.  
8. A palavra “paixão” vem do latim passione. Significa literalmente aquele sentimento tresloucado que muitos de nós já experimentamos; uma febre descontrolada que nos arrasta para fora da razão e do bom senso. Talvez pudéssemos defini-la como “desejo de morte”. Quando nos apaixonamos nos desnudamos diante do outro assumindo uma roupagem que não é nossa. Assim se dá com aqueles que se apaixonam pela bebida ou pelo uso de drogas. Tais pessoas desprezam a própria família e amigos em detrimento do objeto de sua paixão. Abandonam o convívio social e pessoal porque já não conseguem perceber o quão importante são as pessoas e hábitos que está abandonando. São inúmeras as histórias também de homens, ou mulheres, que abandonaram seus filhos e cônjuge por causa da paixão que sentiram por outra pessoa. Algum tempo depois, tais indivíduos se arrependem da loucura que cometeram, mas se dão conta, para tristeza deles, de que já não há como voltar atrás. A paixão é um desejo de morte no sentido em que, abraçados por ela, nos despojamos de tudo o que é nosso para vestir aquilo que é do outro, sejam hábitos, crenças, vícios ou preferências.
9. O amor é o mais nobre sentimento cultivado pela raça humana. Diferentemente da paixão, o amor se desnuda, não para assumir a roupagem do outro, mas, sim, para ajudar a vestir o outro. Quando lemos a história do bom samaritano, percebemos ali um relato cheio de amor, numa história plena de verdades eternas. A primeira verdade é que sempre existem mais pessoas tratando o próximo com indiferença do que com amor. Assim aconteceu com o sacerdote e o levita que passavam junto ao caminho. A segunda verdade é que quem de fato ama pouco se importa com as dificuldades para a manifestação do amor, a exemplo do que fez o bom samaritano. A terceira verdade, se bem que talvez encontrássemos outras, é que quem ama não se preocupa apenas com o presente, mas também com o futuro do objeto de seu amor. Aqui também nos lembramos do bom samaritano deixando pagas, na estalagem, as despesas com o homem ferido e, fazendo menção de que tudo o mais seria pago no futuro. O amor, como disse o apóstolo, tudo suporta tudo sofre e tudo crê. Nenhum exemplo de amor, entretanto, poderá superar aquele manifestado pelo filho de Deus que a si mesmo se entregou por nós.  O amor nada faz por obrigação ou medo, mas sim por prazer. Aquele que ama estende a mão, nem que para isso tenha que perdê-la. Aquele que ama sustenta e apóia, aconselha quando acha necessário e abraça quando sente que é preciso.
10. A palavra “saudade” é muito forte na língua portuguesa. Em outros idiomas, a palavra usada para expressão do mesmo sentimento, nem sempre é tão enfática quanto na nossa língua. E podemos usá-la para várias ocasiões. Quando estamos longe de alguém que amamos, quando nos lembramos de algo há muito tempo vivenciado e mesmo ao nos recordarmos de alguma situação ruim que, no entanto, vem mesclada de sentimentos bons. A saudade acomete os que estão longe de sua pátria, como os judeus que choravam os acordes de Sião. Ela aperta o coração daqueles que, a exemplo de Eliseu clamam: “meu pai, meu pai”.  
11. Harmonia é uma palavra muito bonita que significa coesão, unidade, sintonia. Na música ela denota a perfeita ligação entre acordes diferentes que perfazem uma melodia. No trabalho, a harmonia requer coerência de atitudes e propósitos para que seja possível. Nos estudos é preciso que haja harmonia entre as matérias, para que o conhecimento final seja completo e útil. Até a Bíblia, no conjunto de seus sessenta e seis livros, apresenta a noção de harmonia. No entanto, nenhuma harmonia é possível quando há na música um tom que não se coaduna com os demais. Sem coerência no trabalho, ela é impossível. Se ela não existir nos estudos, o resultado final será nulo. E a Bíblia seria completamente inócua sem a harmonia. A harmonia requer conjunto e unidade, grupo e coesão, multiplicidade e sintonia. Se olharmos bem, tudo pede harmonia. Como seria possível a constituição do universo, tal qual o conhecemos, se os planetas não estivessem alinhados harmoniosamente? Existiríamos como igreja sem ela? Triunfaria o cristianismo caso ela não existisse? Seria impossível! Vivamos, pois, em harmonia. Deus, na sua eterna bondade, apenas nos pede que sejamos sábios cultivando a harmonia com ele. Se assim o fizermos nossos passos serão direitos, nossos olhos enxergarão longe, nossas mãos nunca sentirão falta do sustento, nossos lábios falarão a justiça e nosso coração amará a verdade.
12. A verdade é a coisa mais procurada no mundo inteiro. Há muitos hoje que negam a existência dela. Outros há que acreditam numa verdade relativa que acaba por servir a todos os homens. Mas tal verdade apregoada, não passa de um embuste, cujo propósito é a sonegação daquilo que realmente significa verdade. O que é a verdade? Perguntou Pilatos e, logo em seguida, entregou a verdade para ser destruída. A filosofia, grosso modo, não apresenta o conceito de verdade como satisfatório, mas alguns, mesmo assim, dirão que a verdade é aquilo que é. Como então definir exatamente a palavra verdade? O conceito bíblico de verdade apresenta-a como expressão máxima da realidade observada ou vivenciada. Neste sentido não há como se utilizar de frases ambíguas que deixem margem a dúvidas. A expressão “Meia verdade” torna-se vazia e sem sentido quando se pensa na definição da palavra verdade. Tanto que o Novo Testamento nos encoraja afirmando: “vossas palavras sejam sim, sim e não, não, pois o que passa disso é de procedência maligna. Não há também como caracterizar as verdades de pequenas ou grandes, visto que verdade sempre será verdade e mentira sempre será mentira. Entretanto temos que fazer aqui uma distinção entre modos conceituais de verdade. Quando falamos da verdade como o conceito mais procurado do mundo estamos pensando de algo que foge à mera conveniência do sermos verdadeiros no dia a dia ou não. Estamos tentando descobrir o fim último da existência e não a veracidade de assuntos singulares. Nosso viver diário nos coloca em confronto com situações nas quais só há uma possibilidade de verdade e uma possibilidade de mentira. Entretanto estamos ligados, e parece que de modo universal, há um desejo inerente de conhecimento do futuro. Há aqueles que pensam mais sobre o assunto e aqueles que pensam menos. O essencial para o encontro com a verdade é a honestidade e o desejo real de descobri-la. A bíblia afirma que a verdade, como fim último de nossa existência terrena, só pode ser encontrada em Deus e em nada mais. Todo aquele que é da verdade vem para a verdade, disse Jesus, porque nele, isto é, em Jesus, não há mentira alguma.
13. Deus é tudo o que há de bom e verdadeiro em si mesmo. Isso não significa que ele seja “um ato de bondade”, pois nem sempre um ato de bondade guarda boas intenções, mas sim que ele não pode ser o oposto de bom, nem tampouco guarda consigo desejos maus. Não podemos pensar em Deus como um pai “amoroso” que dá permissão a tudo o que se queira fazer, ou que apóia o filho em todas as suas decisões, quer sejam boas ou más, afinal isso seria considerá-lo como um tolo. Tampouco devemos imaginá-lo como um tirano impiedoso a quem as súplicas de um filho nada represente. Deus é o que é, como disse a Moisés: “Sou o que sou”, portanto qualquer coisa que digamos a respeito dele estará sempre carregada de um puro conteúdo humano. Na verdade o que sabemos, nesse caso, sempre representará um nada diante do que devíamos ou gostaríamos de saber. Entretanto como nosso nível de experiência é o puramente humano e, alicerçados nas experiências humanas, podemos dizer que Ele é bom, misericordioso, justo, verdadeiro, santo e que nos ama. Sem Deus nada existiria, e isso levando em conta que até o “nada” já é uma pressuposição de existência.                            

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