domingo, 31 de julho de 2011

Sem volta


Pega, enrola e “viaja.”
Disse o homem pro menino sem nome.
Ele se escondeu atrás do muro da escola
E olhou ressabiado ao redor.
As primeiras estrelas cintilando no céu,
As nuvens coloridas num tom dourado
Semelhantes a um bocado de mel.

O sentimento inicial foi de fraqueza.
Depois um sorriso amarelo perpassou os lábios do menino.
Fisgado feito peixe no anzol ele continuou sorrindo,
E os lábios trêmulos balbuciavam insanidades
Luzes brancas e azuis, tremeluzentes,
Incendiando as luzes da cidade.

O garoto recostou-se feliz
E deixou ficar o peito cheio.
Na mão inda um pedacinho de giz
Que apanhara pra brincar no recreio
Mas a brincadeira acabou.

Pega, enrola e “vaza.”
Dizia agora o homenzarrão.
Um pouco destoante da “delicadeza” de outrora
Deixando entrever a arma no cinturão.
O menino sem nome ‘inda olhava ao redor
Mas já sem prestar muita atenção.

Pega, enrola e “viaja”
Do mundo infantil
Pro mundo da naja
Que a droga é serpente
Rastejante e envolvente.

Pega, enrola e “vaza”
Que o tiro é fatal
E quando não mata
Confina num hospital.

E vai destruindo, infindo
E coisa... e tal.

Transubstanciação


Quando alguém morre,
Deus nem se alegra,
Nem se entristece,
Apenas recolhe...

E por uma espiral de vidro
Conduz a alma a uma outra esfera
Onde milhares em harmonia
Aguardam felizes numa sala de espera.

E um a um os nomes são lidos
Os feitos relembrados, as dores apagadas
Tudo que passou, passou – Diz o anjo mestre
Agora é um novo caminhar na estrada.

Juntas as almas cantam felizes
É um amanhecer que nunca terá fim
Um esplendor que ofusca só o caminho juncado de lírios
Circundado pelas coroas de jasmim.

Para sempre
Resplandecerá nos rostos, nos sonhos,
A glória de Deus...


quinta-feira, 28 de julho de 2011

Resenha do livro O Adolescente (em russo PADROSTOK) de Dostoiévski

    
                                        peregrinacultural.wordpress.com

Categoria: Romance
Páginas: 537
Idioma original: Russo
Tradução: Lêdo Ivo
LIVRARIA JOSÉ OLYMPIO EDITORA - Rio de Janeiro – 1967

Leitura realizada entre os dias 05 e 21/07/2011.

Esta obra de Dostoiévsky tem, como pano de fundo, a vida atribulada de um adolescente chamado Arkadii Makarovitch. Filho ilegítimo de Versílov, Arkadii transita entre a confiança e a desconfiança em seu padrasto. Apegado a histórias das quais não tinha certeza, o rapaz tende, num primeiro momento, a desprezar o pai adotivo por achá-lo irresponsável e mulherengo. Não fica clara a verdadeira filiação de Arkadii. Sua mãe, Sófia Andréievna, havia sido, inicialmente, desposada por um servo, mas depois tem uma relação com Versílov.
Arkadii inicia suas memórias com as seguintes palavras: "Sou um antigo colegial e tenho agora 21 anos de idade. Meu nome é Dolgorúkii, e meu pai legal chama-se Makár Ivanóv Dolgorúkii..."
Dostoiévsky, a respeito de uma possível obra, A Vida de um Grande Pecador, afirma "O problema principal que será formulado em todas as partes da obra será aquele que me torturou, consciente e inconscientemente, a vida inteira: a existência de Deus." Essa ideia é o limbo (contorno) de seus dois últimos romances, O Adolescente e o inacabado Os Irmãos Karamázovi (pg. X do prefácio de LêDO IVO).
Talvez seja muito difícil descrever qual a mensagem que Dostoiévski queria transmitir ao escrever essa história. Seria preciso, certamente, conhecer o momento de vida do autor e entrevistá-lo a propósito da obra. Pessoalmente, creio que trata-se de um retrato da juventude de sua época, bem como a exposição de suas aspirações, motivações e atitudes. Como em todas as eras, os jovens sempre são entusiasmados e inconsequentes. Agem, quase sempre, por puro reflexo e sem ligar a mínima para as possíveis consequências. No entanto, acredito também que seja a mensagem da importância da juventude como transformadora da realidade e dona de um momento que é único.   


Primeira parte (Pgs. 3 a 188)
Capítulo 1- (dividido em 8 subcapítulos): Arkadii conta traços de sua adolescência, e revela como se deu seu nascimento e suas relações de família. (pgs. 3 a 19). Nesse ínterim vai trabalhar como acompanhante de um príncipe idoso chamado Sokólskii.
Capítulo 2- (dividido em 4 subcapítulos) Arkadii conta (pgs.28 e 29) o drama que viveu com um amigo, deixando-o traumatizado em relação às mulheres.
Capítulo 3- (dividido em 6 subcapítulos) Arkadii cita, pela primeira vez sua "ideia" que haveria de revolucionar-lhe a vida. Arkadii parece sustentá-la( pgs. 42 e 43), mais tarde assim se verá, na história de vida de um falecido bilionário parisiense chamado James Rothschild. Nesse capítulo dá-se a discussão sobre a importância do povo russo; alguém, chamado Dergatchóv, parece tentar contradizer a visão de um tal senhor Kraft, também presente na discussão, a respeito da insignificância do povo russo alcunhado por ele, senhor Kraft, de povo de segunda ordem. A questão versa em torno do sentido da vida e da responsabilidade pessoal na construção da história.
Capítulo 4- (dividido em 4 subcapítulos) Numa sucessão de acontecimentos, Arkadii vai à casa do senhor Kraft e lá fica sabendo, por intermédio dele, de duas cartas comprometedoras. Uma delas lhe é entregue e tem a ver com uma herança disputada pelo padrasto de Arkadii, o senhor Versílov, e os príncipes da família Sokólskii. A outra versava a respeito de um pedido de interdição feito por Ekaterína Nikoláievna, filha do velho príncipe a quem Arkadii servia. 
Capítulo 5- (dividido em 4 subcapítulos) Arkadii apresenta sua ideia dizendo-nos que o segredo é Rothschild, ou seja, ser tão rico quanto ele. Ele a desenvolve melhor afirmando que todo o segredo dela consiste em obstinação e perseverança. Ele está convencido de que o segredo para se tornar bilionário está na abstinência de alimentos e na recusa de bens supérfluos, isto é, na constante e radical economia em prol de um futuro melhor.   
Capítulo 6 – (dividido em 4 subcapítulos) Versílov ganha um processo de herança que tinha contra uns príncipes, amigos da família. Arkadii conta histórias de sua infância no internato e revela o quanto sofreu preconceito por parte de colegas e de seu professor por ser filho ilegítimo. O nome de seu professor era Touchard e o mesmo dirigia-se a ele chamando-o de "lacaio". Por causa de um acerto de contas dialogado, Tatiána Pávlovna, confidente da família, reforça a ideia de que Arkadii de fato havia sido tratado como merecia. Ela chega a dizer-lhe que ele tem mesmo, por ingratidão, uma "alma de lacaio".
Capítulo 7 – (dividido em 4 subcapítulos) Versílov e Arkadii têm, no quarto do garoto, uma longa conversa a respeito dos acontecimentos passados que parecem refletir na situação presente deles. A figura de Mákar Ivanovitch é discutida por ambos.
Capítulo 8 – (dividido em 3 subcapítulos) Arkadii resolve convidar um príncipe que havia destratado seu padrasto para um duelo. Devido a uma enorme confusão, provocada por uma moça chamada Ólia, bem como por um canalha conhecido como Stebélkov, ele cria em sua mente uma imagem negativa do pai adotivo.
Capítulo 9 – (dividido em 5 subcapítulos) Ólia, após uma série de mal entendidos, provocados principalmente por sua própria confusão mental , se suicida, deixando sua mãe presa de uma angústia terrível.
Capítulo 10 – (dividido em 5 subcapítulos) Arkadii avalia qual a culpa de seu padrasto no terrível acontecimento do suicídio da moça e se pergunta, por fim, se ele mesmo também não tem alguma culpa. Arkadii se encontra com o príncipe contra quem queria duelar, o mesmo que havia destratado seu padrasto, e fazem as pazes.

Segunda parte (Pgs. 189 a 328)
Capítulo 1 – (dividido em 4 subcapítulos) Arkadii, após breve ruptura com Versílov, recebe-o no quarto para onde se mudara. Passava muito tempo com o príncipe Serguiéii Sokólskii com quem havia feito as pazes. Encontra seu pai, Versílov, conversando com seu senhorio a propósito de lendas urbanas tidas como histórias reais. Os dois têm uma longa conversa a respeito de assuntos variados.
Capítulo 2 – (dividido em 3 subcapítulos) Ainda confuso a respeito de muitas coisas, e desconhecendo algumas outras, Arkadii se envolve numa discussão sobre a nobreza russa encetada por Versílov e o príncipe Serguiéii.
Capítulo 3 – (dividido em 4 subcapítulos) Stebélkov revela-se um indigno agiota fofoqueiro. Arkadii segue enganado, desconhecendo completamente o envolvimento entre sua irmã Liza e o príncipe Serguiéii. Stebélkov, a propósito desse envolvimento que Arkadii ignora, tenta subornar o rapaz.  
Capítulo 4 – (dividido em 2 subcapítulos) Em casa de Tatiána Pávlovna acontece um encontro entre Arkadii e Ekaterína Nikoláievna (filha do velho príncipe a quem Arkadii fazia companhia). Na verdade Arkadii nada sabia a propósito desse encontro, mas posteriormente, por causa dele, se vê envolto num emaranhado de confusões, sentindo-se usado pelos mais velhos por isso.
Capítulo 5 – (dividido em 3 subcapítulos) Arkadii narra a seu pai os acontecimentos em casa de Tátiana Pávlovna. Fala do encontro inesperado com Ekaterína e, também, a propósito de uma antiga carta que se constitui num motivo de preocupação para Ekaterína.
Capítulo 6 – (dividido em 4 subcapítulos) Dária Oníssimovna, mãe da suicida Ólia, faz uma visita para Arkadii e fala-lhe de modo muito emocionante. Arkadii vai a uma casa de jogos, cedendo a seu mais novo vício, e lá arruma uma confusão com outros jogadores sendo, por fim, mal tratado pelo seu amigo príncipe. O príncipe supôs que Arkadii soubesse alguma coisa a respeito de sua ligação com a irmã dele, mas descobre que na verdade o rapaz de nada sabia.
Capítulo 7 – (dividido em 3 subcapítulos) Arkadii conta a sua irmã Liza que já sabe a respeito da gravidez dela. Não fica a menor sombra de animosidade entre os dois irmãos, apesar de o rapaz sentir-se um tolo face à descoberta. O príncipe Serguiéii fala de suas intenções com relação à irmã do rapaz.
Capítulo 8 – (dividido em 6 subcapítulos) Arkadii visita o velho príncipe para parabenizá-lo pelo casamento com sua meio-irmã Ana Andréievna. Há no ar um clima de tensão e o rapaz descobre que está em apuros com Ekaterína. Posteriormente ele fica sabendo que seu nome foi envolvido numa grande trapalhada criada pelo seu padrasto Versílov. Arkadii, numa tentativa de salvar seu amigo, o príncipe Serguiéii, vê-se envolvido numa acusação de roubo numa casa de jogos.
Capítulo 9 – (dividido em 4 subcapítulos) – Arkadii sai sem destino, após a acusação de roubo e enfrenta a noite gelada cheio de ressentimento contra todos. Desesperado anda a esmo pelas ruas até chegar próximo ao posto da Guarda Montada. Cansado se assenta junto a um muro e termina por pegar no sono. Em sonhos, que mais parecem pesadelos delirantes, ele revê situações tristes de quando estava no internato sendo maltratado pelo professor e seus colegas. Na manhã seguinte, enregelado, é casualmente encontrado pelo seu ex-companheiro de quarto no internato conhecido como Lambert. Lambert o leva para sua casa. Arkadii foge de lá no mesmo dia.

Terceira parte (Pgs. 329 a 524)
Capítulo 1 – (dividido em 3 subcapítulos) Após nove dias de inconsciência, agravados devido ao frio enfrentado naquela noite, Arkadii se recupera e descobre já estar em casa de sua família. Fica surpreso ao descobrir que na mesma casa está também o ancião Makár Ivánovitch.
Capítulo 2 – (dividido em 5 subcapítulos) Arkadii descobre, pela mãe da suicida Ólia, que Lambert o visitara com regularidade. A presença de Makár Ivánovitch na casa se transforma em motivo para muitas discussões e diálogos relevantes.
Capítulo 3 – (dividido em 4 subcapítulos) Makár Ivánovith conta para o rapaz uma longa história com a finalidade de ensinar-lhe a importância da ternura e da solidariedade.
Capítulo 4 – (dividido em 4 subcapítulos) Arkadii descobre em Lambert um verdadeiro ladrão canalha, explorador do segredo dos outros em benefício próprio. Breve e tumultuada visita na prisão ao príncipe Serguiéii. Arkadii descobre que ele está louco. O príncipe havia sido preso pelo envolvimento em coisas escusas.
Capítulo 5 – (dividido em 3 subcapítulos) Arkadii visita sua meio-irmã e descobre mais sujeiras a respeito de Lambert. Resoluto sai em busca do ex-companheiro encontrando-o metido em esquemas sujos de enriquecimento fácil. Lambert faz propostas indecentes para o moço.
Capítulo 6 – (dividido em 3 subcapítulos) Lambert propõe negócios sujos a Arkadii. Morre Makár Ivánovith, o ancião. Diálogo com Ekaterína.
Capítulo 7 – (dividido em 3 subcapítulos) Versílov faz revelações a Arkadii sobre acontecimentos passados de sua vida que influenciam os acontecimentos presentes. Discorre a respeito de suas viagens pela Europa e das preocupações advindas com a emancipação dos escravos.
Capítulo 8 – (dividido em 2 subcapítulos) Versílov continua suas revelações. Apesar de seu amor pela esposa havia, ainda, dentro dele, a necessidade da busca pelo amor de Ekaterína. Arkadii considera seu pai confuso e superficial nesse ponto.
Capítulo 9 – (dividido em 5 capítulos) Arkadii é procurado por Dária Oníssimovna com o pedido de que vá, urgentemente, ao encontro de sua meio-irmã Ana Andréievna. Nesse momento o que se passa é que Ana está para se casar com o velho príncipe, pai de Ekaterína, e precisa conversar com ele, Arkadii, a propósito do documento que ele, pretensamente, mantém em seu poder. O tal documento seria a salvação de Ana, a quem já toda a sociedade condena por querer desposar um ancião, e a perdição de Ekaterína. Trata-se de uma carta na qual Ekaterína, a filha do velho príncipe, se dispõe a internar o pai num asilo, dadas as circunstâncias da época em que a carta foi escrita. Se tal documento for revelado ao ancião, provavelmente sua filha será deserdada e, por outro lado, Ana se apresentará como verdadeira cuidadora e herdeira universal do ancião. Arkadii não aceita fazer parte dessa trama.
*Há um erro nesse ponto do livro, pois o capítulo 5 vem antes do capítulo 4. Aparentemente trata-se, apenas, de uma troca de números, o que não compromete o desenvolvimento da história.
Capítulo 10 – (dividido em 4 subcapítulos) Arkadii recebe a inesperada visita de Trichátov, um dos ex-comparsas de Lambert. Ele o avisa de que seu antigo chefe está pretendendo prejudicar o rapaz de algum modo. Arkadii espiona seu pai Versílov e Ekaterína conversando numa sala dum apartamento dele sobre os tempos passados e sobre o amor entre os dois que, parece, nunca ter sido compartilhado por ambos.
Capítulo 11 – (dividido em 3 subcapítulos) Arkadii, após as revelações de que toma conhecimento em casa de se pai, corre alucinado ao encontro de Lambert e faz a ele revelações perigosas. Bêbado, termina por prejudicar-se expondo detalhes que deveria ter escondido.
Capítulo 12 – (dividido em 5 subcapítulos) Após uma série de acontecimentos reveladores e que se precipitam num torvelinho, Arkadii se dá conta ainda mais de que seu pai tem uma grave doença psicológica, já observada por outros em momentos anteriores. Ele se refere ao problema do pai como "o duplo". Provavelmente há, aqui, a referência a uma "dupla personalidade". Lambert, de posse da carta comprometedora, que havia subtraído a Arkadii por ocasião de sua bebedeira em casa dele, marca uma entrevista com Ekaterína em casa de Tatiána Pávlovna, evidentemente sem que essa soubesse. Versílov, acompanhando Lambert, mais uma vez age de modo estranho, defendendo sua "amada" contra as tirânicas palavras do bandido que a ameaça com a carta em mãos. Numa seqüência de desatinos, Versílov desfere um golpe contra a cabeça do bandido, desmaiando-o, e, em seguida atenta contra sua própria vida. Arkadii que a tudo vigiava corre em socorro do pai e termina por conseguir livrá-lo de morte certa no último instante.

Conclusão (Pgs. 525 a 537) 
Capítulo 13 – (dividido em 3 subcapítulos) – Arkadii descreve minuciosamente os últimos acontecimentos e como eles se precipitaram naquele desfecho. Finaliza contando sua amizade com Tatiána Pávlovna e o amor que vai se revelando, finalmente, entre seu pai e sua mãe. Ekaterína, a quase amada de seu pai e filha do velho príncipe já morto, é agora uma mulher que corre o mundo e mantém contato com ele por meio de cartas. Já se passaram seis meses e Arkadii decidi escrever suas memórias enviando-as ao escrutínio de alguém que possa aconselhá-lo quanto ao futuro. Escolhe como possível conselheiro seu antigo professor em Moscou, Nikolái Semiónovitch, marido de Maria Ivánovna. O livro termina com os conselhos enviados por ele e as sábias palavras finais da carta em relação às memórias de Arkadii: "elas fornecerão materiais, no caso de serem sinceras, a despeito de seu caráter caótico e fortuito... Pelo menos subsistirão alguns traços verídicos que permitirão adivinhar o que pôde esconder-se na alma deste ou daquele adolescente naqueles tempos convulsionados, pesquisa que não será de modo nenhum desprezível, pois são os adolescentes que formam uma geração..."(P537).

Trechos importantes
Pg. 187: Liza dizendo para Arkadii: "Apenas há uma condição: Se um dia acusarmos um ao outro, se algo nos descontentar, se ficarmos de mau humor, se esquecermos tudo, se até esquecermos tudo, mesmo assim não esqueceremos jamais este dia e esta hora! Empenhemos nossa palavra. Prometamos lembrar-nos eternamente deste dia em que passeamos juntos, de mãos dadas, e nos rimos tanto, e sentimos tanta felicidade... sim? Dizes sim?"
Pg. 263: Versílov dizendo para Arkadii: "_Meu caro... sê sempre tão puro como o és neste instante. Até então, eu nunca o beijara, e jamais imaginaria que ele próprio o reclamasse".
Pg. 335, 336: Makár Ivánovitch faz uma análise do riso.
Pg. 336 a 343: Diálogo de Arkadii com Makár Ivánovitch sobre Deus e a ciência.
Pg. 355 – Discurso de Makár Ivánovitch: "Todo homem, mesmo o ateu, se repele Deus ajoelha-se diante de um ídolo, de madeira, de ouro, ou imaginário."
           Pg. 425 - Segundo Arkadii a mulher ama o despotismo do marido, gosta de ser mandada.
           Pg.428 - "Todas as mulheres são baixas". Há aqui, provavelmente, a externalização do tralma vivido pelo rapaz.
Pg. 442: Relato de um sonho fantástico feito por Versílov.
Pg. 451 – 1º parágrafo: Citação de Victor Hugo em "Os Miseráveis".
Pg. 456: Arkadii se refere à "confissão" de Versílov.
Pg. 458: Arkadii se sente agastado com tantos segredos, mas sua narrativa é cheia de mistérios que acabam açulando a curiosidade do leitor.
Pg. 525: Versílov tem dupla personalidade.



Personagens principais
Arkadii Makárovith
Sófia Andréievna (mãe de Arkadii)
Versílov (pai de Arkadii)
Liza Makárovith (irmã de Arkadii)
Ana Andréievna (meio-irmã de Arkadii)
Tatiána Pávlovna Prutkóva, tia de Versílov
Ekaterína Nikoláievna (romance antigo de Versílov)
Dária Oníssimovna (mãe da suicida, Ólia)
Lambert (antigo companheiro de internato de Arkadii)

Erros ortográficos ou de digitação

            Pg. 318 - 3º parágrafo/4ª linha - amrgura - amargura
Pg. 369 – 2º parágrafo – Um história de negociante... (Uma)
Pg. 381 - 10ª linha - consistiam - consistia
            Pg. 414 - ele modo disse - ele me disse
            Pg. 417 - de mais - demais  
Pg. 460 – 3º parágrafo – Em baixo (Embaixo)
Pg. 494 – Nota de rodapé – velhice da Davi. (velhice de Davi)
Pg. 516 – Capítulo 3 – 5ª linha – dise-me (disse-me)

Resenha do livro Crime e Castigo de Dostoiévski - (1821-1881)

                  
                                                  pietrasopralinea.blogspot.com


Categoria: Romance
Páginas: 330 
Idioma original: Russo
Tradução: Luís Cláudio de Castro
Editora: Ediouro Publicações S.A.

Leitura realizada entre os dias 02 e 06 de julho de 2011.

Raskólnikov é um jovem estudante que mora em um cubículo e leva uma vida soturna em São Petersburgo, na Rússia. Sem dinheiro e sem prestígio perante os poderosos, submete-se a uma vida de favores prestados pela dona da pensão aonde mora que, malgrado as mensalidades atrasadas, vai deixando o rapaz sossegado em seu canto.
No entanto, Raskólnikov não tem posses e até o curso acadêmico teve que ser interrompido por falta de dinheiro.
Após várias considerações sombrias, devido à falta de recursos tanto para morar quanto para estudar, ele assassina a velha agiota que lhe emprestava dinheiro mediante a penhora de objetos de valor e, devido ao acaso acaba assassinando também Isabel, a irmã dela.
Mesmo tendo assassinado e roubado, Raskólnikov não faz uso dos bens angariados com sua atitude e acaba caindo num torpor muito pior do que antes. A chegada de sua mãe e sua irmã na cidade o deixa ainda mais deprimido.
Entretanto, o que o deprime não é o assassinato em si, nem tampouco o arrependimento que naturalmente deveria advir após o mesmo, mas sim o sentimento de que não conseguiu levar adiante os projetos que tinha baseados numa visão de grandeza e de importância pessoal ao estilo napoleônico.
Raskólnikov, ainda na universidade, escreveu um texto no qual afirmava que o mundo estava dividido entre dois tipos de pessoas, os ordinários e os extraordinários. Os ordinários eram os homens comuns, sujeitos ao trabalho e às atitudes ou ordenanças dos seus superiores; os extraordinários eram aqueles que, a exemplo de Napoleão Bonaparte, de maneira ousada e despótica ocasionavam a mudança do mundo a despeito da quebra de leis ou morte de pessoas.
Por toda a história transparece a intenção de Raskólnikov de considerar-se um extraordinário, alguém predestinado à transformação do mundo. Quando por fim ele é preso e enviado para a Sibéria, permanece em suas meditações a ideia de que não havia sido compreendido pelo mundo. Mesmo após muitas complicações e sofrimento, Raskólnikov não se mostra arrependido e segue para a punição como um autômato que crê estar apenas cumprindo com uma convenção social.
Raskólnikov sobrevive à duras penas na Sibéria tendo por companhia a figura de sua amiga Sonia, moça simples a quem a desgraça de uma vida de sacrifícios em prol da família havia conduzido à prostituição. Após tantas situações de conflito e inúmeros motivos para sofrimento e tristeza, Raskólnikov parece, no fim da história, encontrar a felicidade ao lado da jovem, ainda que suas projeções para com ela acabem por ficar restritas a uma possível vida futura fora dos muros da prisão.
Nessa obra, Dostoiévski trabalha com o conceito da culpa e mostra como ela pode ter desdobramentos físicos a ponto de desestabilizar o equilíbrio psicológico de uma pessoa, ainda que esse indivíduo não se dê conta disso ou não se arrependa de seu erro.

Personagens principais
Rodion Românovitch Raskólnikov: Jovem estudante de direito, desiludido da vida por não ter dinheiro e, sobretudo, achar-se superior ao homem comum.
Pulquéria Alexandrovna Raskólnikov: Mãe de Raskólnikov.
Avdótia Romanovna Raskólnikov (Dúnia): Irmã de Raskólnikov.
Alena Ivanovna: Velha usurária assassinada por Raskólnikov.
Isabel Ivanovna: Irmã da velha usurária, também assassinada.
Sófia Siemionovna Marmêladov: Sonia era uma moça pobre e consciente que, por vários motivos, entregou-se à vida de prostituição.
Razumikine: Amigo de Raskólnikov e futuro marido de sua irmã.
Pedro Petróvitch Lujine: Pretendente machista da irmã de Raskólnikov.
Sr. Svidrigailov: Queria fazer-se amante da irmã de Raskólnikov.


*Na tradução de Luís Cláudio de Castro o nome Raskólnikov aparece como Raskólnikof. Tomei a liberdade de usar o nome com final de letra V, por me dar conta de que na maioria das traduções o nome aparece escrito dessa forma.

Resenha do livro Os Miseráveis de Victor Hugo


                                           
                                         
                                                 litejuvenil.blogspot.com

Categoria: Romance histórico
Páginas: 516
Idioma original: Francês ("Les Miserables")
Tradução: José Maria Machado
Editora: Hemus  
Leitura realizada entre os dias 21 e 28 de junho de 2011.

Trata-se de um romance ambientado na França pós-guerra de Waterloo. Em Waterloo, Napoleão Bonaparte, imperador francês, encontrou sua grande derrota. Até então seu nome na Europa era um dos mais temidos. Basta lembrarmos que toda a família portuguesa havia se mudado para o Brasil no intuito de fugir às ganas do imperador que ameaçara invadir Portugal. O personagem principal desse romance, Os Miseráveis, é um ex-prisioneiro das galés conhecido por João Valgean. Trata-se de um homem rude e bronco que havia sido aprisonado por roubar um pão na padaria para satisfazer a fome própria e de sua irmã e sobrinhos, durante à grande depressão que se seguiu após os acontecimentos da Revolução Francesa de 1789 e da Guerra de Waterloo em 1815.
João Valgean, recém libertado das galés por cumprimento de sua pena (19 anos de reclusão) surge na cidade de Digne pedindo abrigo e ajuda, mas ninguém nele confia por saberem de quem se trata. Nesse contexto, João Valgean conhece o Bispo Myriel, homem justo e disposto a ajudá-lo. Apesar da ajuda o ex-condenado não se emenda e acaba por roubar a casa do bispo que, no entanto, recorre à prática do perdão impedindo o ladrão de ser novamente enviado para a prisão.    
Anos depois João Valgean surge no outro extremo da França como um rico industrial conhecido por Sr. Madeleine. Madeleine é em extremo caridoso e humano, reconhecendo não apenas a necessidade de ajudar os pobres como de fato o fazendo dada a sua posição na sociedade. Em sua nova situação e, após muita insistência da alta sociedade, acaba sendo eleito prefeito de Montreuil-sur-Mer. Surge, nesse contexto, a figura de uma mulher injustiçada e acossada pelos males da vida devido à miséria reinante na sociedade de então. Fantine era o nome dessa mulher. João Valgean progride, Fantine decai. Numa confusão entre Fantine e um rapaz da região aparece a figura imponente do policial Javert. Dadas ás circunstâncias da fome e da miséria declarada, fantine havia se prostituido, após ser abandonada com uma filha pelo seu namorado e amante  Tholomyès Félix que simplesmente desaparece da história. Aprisionada por Javert, Fantine é libertada pelo Sr. Madeleine que, outrossim, promete auxilia-la naquilo que for preciso. É tarde demais, a moça está doente do corpo e da alma, pois já havia se desfeito da filha por não poder sustentá-la e ganhava a vida de qualquer modo para enviar dinheiro àqueles que haviam se disposto a cuidar da menina. Numa sucessão intensa de acontecimentos, doença de Fantini e descoberta da verdadeira identidade do prefeito Madeleine, João Valgean sai em busca da menina.
Cosette, filha de Fantini, é criada em Montfermeil pelos Thénardier, família constituída por um estalajadeiro e sua esposa, pessoas de má índole, cruéis, egoistas e aproveitadores. Cosette se desenvolve em meio ao sofrimento contínuo como menina indesejada. João Valgean chega na cidade e, numa transação repugnante dada a ganância dos Thénardier, compra a liberdade de Cosette levando-a consigo conforme prometera à mãe recém falecida. No entanto o policial Javert continua em seu encalço após a descoberta de sua verdadeira identidade como ex-condenado.     Jean Valjean encontra sua salvação no Petit-Picpus, convento sob a proteção do senhor Fauchelevent. Lá, após uma série de eventos, um dos quais quase o vitima, João Valgean se torna Ultime Fauchelevent. O senhor Fauchelevent era um velho aldeão desafortunado salvo pelo prefeito Madeleine em Montreuil-sur-Mer após ficar preso sob uma carroça carregada e extremamente pesada. A grande força do prefeito o havia salvo de morte certa na ocasião.
Após a morte do Sr. Fauchelevent, João Valgean, agora Ultime Fauchelevent, sai com sua protegida do convento levando-a como filha para a rua França. A partir daí começam os confrontos para o motim de 1832. João Valgean possui uma bela soma em dinheiro, fruto de seu trabalho como ex-industrial em Montreui-sur-Mer. Leva vida abastada e tranquila na casa da rua França. A vida de Cosette, agora já moça feita, se cruza com a vida de um estudante chamado Mário. Os dois se apaixonam em segredo, mas por causa de novas investidas do inspetor Javert (prisão dos Thénardier, agora família Jondrete), João Valgean decidi ir embora para a Inglaterra, o que causa profundo pesar aos dois jovens. Nessa mesma época iniciam-se os confrontos do motim de 1832 do qual Mário vai tomar parte. Durante o confronto, João Valgean descobre o amor de sua filha pelo insurgente Mário e decide acompanhá-lo na insurreição para salvá-lo da morte e garantir a felicidade da moça. Reaparece a figura do inspetor Javert como espião infiltrado no meio dos insurgentes. Coube a João Valgean o assassinato do mesmo durante a revolta, no entanto ele decidiu pela soltura do policial, limitando-se a atirar para o alto.
Depois de uma luta encarniçada, terrível e fatal contra os soldados do governo para quase todos os insurgentes, Mário ensanguentado e inconsciente é carregado por João Valgean pelos canos de esgoto de Paris até às margens do Rio Sena, local muito distante do ponto de confronto. Javert encontra os dois à saída dos esgotos e ajuda João Valgean a levar o rapaz até seu avô para que lhe seja ministrado os cuidados necessários. Ainda no interior do cano, João Valgean se encontra com seu quase assassino Thénardier que, sem o conhecer devido à sujeira do esgoto, destranca a pesada grade do cano mediante a liberação de certa quantia em dinheiro. João Valgean se identifica para o inspetor Javert e se coloca à sua disposição para ser conduzido à prisão. Javert, profundamente tocado por tantas provas de mudança real na vida de um ex-condenado, dá cabo à própria vida jogando-se de uma imensa altura nas águas do Rio Sena.
Finalmente, após uma série de eventos, ocorre o casamento de Mário com Cosette e a recusa do rapaz em ter qualquer tipo de relação com o sogro após descobri-lo um ex-condenado. No entanto, por obra do acaso, Thénardier termina por desvendar para Mário a identidade de seu salvador nos canos de esgoto de Paris, o que o leva a reatar relações com o sogro e a entendê-lo como pessoa benevolente da maior importância para a concretização de sua felicidade, bem como a de sua, agora esposa, Cosette.  
O livro exalta as qualidades de um homem que, intimamente tocado por Deus por meio das palavras do Bispo Myriel, é transformado face a um dos períodos de grande miséria da França. Os Miseráveis retrata a vida difícil daqueles que sobreviveram pós Revolução Francesa e Guerra de Waterloo.